Sam Bankman-Fried da FTX deve depor em seu julgamento na próxima semana
De maneira surpreendente, o fundador e ex-CEO da FTX, Sam Bankman-Fried (SBF), decidiu que irá depor em seu próprio julgamento. De acordo com as autoridades, SBF deve servir como sua própria testemunha de defesa na semana que vem. Com isso, muitos envolvidos no julgamento esperam que o depoimento possa acelerar o fim dos trabalhos.
A decisão de Bankman-Fried surpreende porque nos Estados Unidos os réus na posição do ex-CEO da FTX normalmente são aconselhados a não depor. Mas SBF decidiu ir contra essa regra e, ao que tudo indica, tentará convencer o júri de que ele estava agindo de boa-fé.
O ex-CEO da FTX enfrenta acusações de fraude, desvios e outros crimes de colarinho branco. De maneira geral, os réus de casos que possuem grande repercussão escolhem ficar em silêncio. A maioria deles acaba invocando a 5ª Emenda da Constituição dos EUA, que garante o direito de não produzir provas contra si mesmo.
Contudo, nos últimos anos, alguns arguidos – como Elizabeth Holmes, do caso Theranos – contrariaram a tendência. E agora Bankman-Fried deve seguir o mesmo caminho.
Fim de caso de Bankman-Fried?
Em uma teleconferência realizada recentemente entre os advogados de SBF, o juiz Lewis Kaplan, e a promotoria, decidiu-se que Bankman-Fried iria de fato depor. O juiz Kaplan vai agendar o depoimento da defesa a partir do dia 26 de outubro, logo após as declarações finais da promotoria.
Embora alguns envolvidos esperassem que o julgamento terminasse na segunda-feira (23), isto parece irrealista, dada a possível necessidade de interrogatório. Portanto, as audições devem continuar pelo menos durante a próxima semana.
Na teleconferência, o advogado Mark Cohen, que faz a defesa de SBF, informou ao juiz Kaplan que a defesa teria três testemunhas para depor, além de Bankman-Fried. Espera-se que o depoimento do ex-CEO leve um tempo semelhante ao dos depoimentos de seus ex-colegas de alto escalão, de acordo com Cohen.
As outras testemunhas em questão são um advogado das Bahamas, uma testemunha não identificada que explicaria as responsabilidades e cargos na FTX, e Joseph Pimbley, consultor de litígios da PF2 Securities. A entrada de Pimbley é uma vitória da defesa, que queria seu depoimento no caso. No entanto, uma moção apresentada pela acusação impediu Pimbey de depor no início do julgamento.
Tentativa de última hora
O ex-promotor federal Josh Naftalis comentou o caso, opinando que esta é a última chance de Bankman-Fried tentar convencer o júri de que a FTX só entrou em colapso porque as coisas saíram do controle e que ele não tinha más intenções.
“Estamos no último turno e, para mudar de metáfora, esta é a sua Ave Maria. Esta é a sua oportunidade de dizer: ‘Não tive intenção de fazer nada de errado, não agi de má fé. As coisas ficaram fora de controle, mas eu agi de boa fé’. É realmente difícil para qualquer réu explicar a um júri o que está em sua cabeça, a menos que deponha.”
No entanto, Bankman-Fried tem o hábito de explicar o que se passa em sua cabeça de uma maneira que muitas vezes não o retrata de maneira favorável. Ninguém sabe se desta vez as coisas serão diferentes. Além disso, o destino da SBF será decidido por um veredicto especial.
Ao contrário dos julgamentos com júri típicos – em que um júri empatado é muitas vezes suficiente para evitar a pena de prisão, desde que a opinião do júri não seja unânime – em veredictos especiais, o Juiz decide o que o júri responde e tira implicações legais dessas respostas.
Mesmo que o fundador da FTX consiga convencer um jurado de sua inocência – o que em julgamentos com júri geralmente pode ser suficiente para garantir um veredicto melhor – isso pode não ser suficiente. De acordo com uma carta de seis páginas enviada por seus advogados ao juiz, Bankman-Fried planeja colocar a culpa na equipe jurídica que o representa e também na FTX.