THORChain lança token para converter passivo em patrimônio
O protocolo descentralizado THORChain anunciou um plano ousado para liquidar suas dívidas com a comunidade. Após acumular passivos de US$ 200 milhões vinculados aos produtos THORFi (empréstimos e poupanças), a ideia agora é emitir um novo token para quitar essa dívida.
O plano foi desenhado por membros do protocolo com o intuito de garantir a continuidade operacional da rede enquanto paga os credores.
No final de janeiro, a rede teve que paralisar as operações do THORFi, o braço financeiro do protocolo, após as dívidas contraídas nos sistemas “Savers and Lending” saírem do controle.
Apesar disso, a rede manteve operações essenciais, como swaps entre blockchains e geração de receita. Mesmo assim, a notícia da pausa do serviço de depósito e empréstimo por 90 dias teve sérias consequências para a rede. Ao menos 32 validadores abandonaram o projeto e liquidaram US$ 100 milhões, derrubando o preço do token RUNE.
Para tentar estancar a sangria, operadores do protocolo aprovaram uma proposta para reestruturar a dívida de US$ 200 milhões com os usuários.

Proposta prevê transformar passivo em patrimônio
De acordo com o anúncio oficial da THORChain, foram apresentados oito planos de reestruturação. A “Proposta 6”, elaborada por AaluxxMyth do Maya Protocol, recebeu aprovação unânime dos operadores. A ideia não é pagar os US$ 200 milhões em dívidas, mas garantir a continuidade das operações da THORFi, enquanto garante a liquidez do passivo acumulado.
O plano prevê que os usuários credores do sistema de “Savers and Lending” possam trocar suas dívidas por um novo token (TCY). Esse novo token permitirá que os credores resgatem 1 TCY para cada US$ 1 de exposição que tinham em dívidas
Além disso, o novo token ficará atrelado a 10% dos lucros gerados pela rede em contratos perpétuos, proporcionando um incentivo para manter o token dentro da rede. Mesmo assim, haverá um fundo financiado pelo tesouro da THORChain que garantirá que os usuários possam vender esses tokens sempre que quiserem.
Desse modo, como o valor do TCY será definido pela demanda por 10% das receitas da THORChain, a expectativa é criar uma ferramenta de compensação imediata com valorização futura. O plano completo, e suas futuras adições (acesse aqui).
No entanto, apesar do anúncio do plano, ainda não há detalhes de quando ele será colocado em prática. Após o anúncio, o preço do RUNE subiu por volta de 10%, insuficiente para reverter a queda – 73,2% nos últimos 30 dias.
Entenda a crise da THORChain
Anunciados em agosto de 2023, os sistemas “Savers and Lending” permitem que os usuários do protocolo lucrar com suas criptomoedas sem precisar vendê-las.
No Savers, o usuário recebe juros das criptomoedas depositadas em uma poupança. Com o Lending, os usuários emprestam criptomoedas para outros usuários e recebem juros. Para fazer as operações de poupança e empréstimo, a THORChain usa seu token, o RUNE, criando uma espécie de aposta longa do RUNE contra as criptomoedas que estão depositadas e emprestadas.
No entanto, quando o RUNE não acompanha valorização dos tokens empréstimos, o sistema entra em uma espiral inflacionária.
Quando o usuário deposita uma criptomoeda na poupança, por exemplo, o Bitcoin, metade do BTC é vendido e convertido em RUNE. Com o que sobrou do BTC e o RUNE, correspondente a metade vendida, a THORChain cria um par BTC-RUNE e envia para um pool de liquidez.
Em troca, o protocolo envia para o depositante um Bitcoin sintético, o synths. Ele é atrelado ao pool criado e pode ser bloqueado pelo depositário em taxas de swap e recompensas de liquidez.
No momento em que o usuário solicita o saque do depósito, a THORChain vende a quantidade de $RUNE inserida no pool de liquidez para recomprar a metade do token vendido (no caso do nosso exemplo, o BTC). Ocorre que, esse sistema funciona se o RUNE se valorizar na mesma medida que o Bitcoin.
Espiral inflacionária
Por exemplo, se entre depósito e o saque, o RUNE se mantiver estável e o Bitcoin valorizar, então o RUNE inserido no pool de liquidez não será o suficiente para recomprar a metade do Bitcoin vendido. Assim, a THORChain, como depositária, é obrigada a emitir novos RUNE e colocá-los à venda, para que possa complementar o saldo e recompor o Bitcoin emprestado pelo usuário.
A mesma coisa acontece com os empréstimos (Lending)s. Quando o usuário solicita um empréstimo, dá como garantia uma criptomoeda cujo preço é convertido em RUNE. Esse RUNE serve para comprar a criptomoedas que o mutuário deseja. Em seguida, há a quema das criptomoedas.
No momento em que o mutuário paga o empréstimo e solicita a devolução da garantia, o protocolo emite novas RUNE para recomprar a garantia e devolver ao mutuário.
No entanto, em um cenário em que o Bitcoin subiu 131.6% e o RUNE perdeu 68,8% durante o último ano, o mecanismo torna-se insustentável. Na medida que a rede se vê obrigada a emitir novos tokens RUNE, o token cai de preço, obrigando a THORChain a emitir mais RUNE. Assim, o protocolo cria uma pressão inflacionária no RUNE, criando um ciclo vicioso que não consegue sair.
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