Crise econômica na Argentina acelera adoção de criptomoedas

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Assim como o Brasil, a Argentina é um dos países onde a adoção de criptomoedas, principalmente  stablecoins, mais cresce na América Latina, segundo relatório da Chainalysis. Devido a questões sócio-econômicas, muitos passaram a ver nos ativos digitais uma maneira de escapar da desvalorização da moeda local e encontrar estabilidade.

O serviço mais utilizado pelos latino-americanos são as exchanges, representando cerca de 68,7% dos usuários. Países onde a inflação atingiu com mais força durante a pandemia apresentam uma taxa de crescimento anual mais acentuada que os demais; no geral, o continente registrou um aumento na circulação de 42,5% em 2024.

No entanto, as movimentações cripto na Argentina lideraram ao longo do período analisado, com US$ 91,1 bilhões em volume estimado. O Brasil ficou um pouco atrás (US$ 90,3 bilhões).

A crise econômica na Argentina é um tema complexo e exige um entendimento sobre o contexto histórico recente do país, desde o início da recessão econômica até como a Argentina caminha nos dias de hoje, evidenciando os motivos por trás da adoção acelerada de criptomoedas.

Processo de Reorganização Nacional (1976-1983)

Este foi um dos períodos mais conturbados das últimas décadas da Argentina, pois foi cenário de um regime militar caracterizado por graves violações dos direitos humanos. A presidente em exercício, Isabel Perón, foi deposta do cargo.

Neste período, o governo promoveu a abertura comercial e financeira do país, reduzindo as tarifas de importação e liberação de câmbio. Além disso, estatais foram privatizadas e os preços dos produtos foram desregulados, aumentando a concentração de renda entre as camadas mais ricas.

Empréstimos externos foram solicitados para custear as iniciativas do governo, o que levou a dívida externa do país ao descontrole. A crise econômica na Argentina é afetada pelos impactos desse período até hoje.

Hiperinflação (Década de 1980)

Como resultado do endividamento público, as políticas monetárias da Argentina entraram em colapso. Convém mencionar que a dívida externa também afetou outros países da América Latina, devido ao aumento das taxas de juros internacionais e da dificuldade de honrar seus compromissos.

O peso argentino, moeda oficial do país, enfrentou forte desvalorização ao longo do período, reduzindo o poder de compra da população e a hiperinflação atingiu a marca de milhares por cento.

Plano de Convertibilidade (Década de 1990)

Em 1991, o então Ministro da Economia, Domingo Cavallo, criou uma estratégia agressiva para tentar reverter a situação econômica. O objetivo era parear o peso argentino com o valor do dólar americano. A lei, aprovada em março do mesmo ano, fixava a paridade do ativo nacional para transmitir credibilidade ao mercado internacional.

Além disso, a emissão de pesos passou a ser estritamente controlada, para garantir que a paridade se mantivesse de acordo com as reservas do Banco Central. Ou seja, a impressão de pesos deveria estar diretamente relacionada à reserva de dólares americanos.

O Plano de Convertibilidade conseguiu controlar a inflação por um breve período. Entretanto, a dependência do fluxo de capitais externos, a perda de competitividade por conta da taxa fixa de câmbio e o aumento da dívida externa levaram à quebra do plano.

Commodities na Argentina (Entre 2000 e 2014)

O aumento das commodities agrícolas fizeram com que a Argentina retrocedesse, ainda que temporariamente, a forte desvalorização da economia. Produtos minerais e energéticos também auxiliaram nesse período.

Carne bovina, soja, milho e trigo estão entre as commodities mais exportadas até hoje, representando uma parcela considerável do PIB. Com esse aumento das receitas, o endividamento externo começou a reduzir, permitindo investimentos em outras áreas.

Com o desaceleramento da economia chinesa, em 2011, o “boom” das commodities começou a perder força, impactando diretamente na performance econômica do país. Com isso, a inflação mais acentuada voltou e, para combatê-la, controles cambiais e a restrição à compra de dólares foram praticados.

Nova crise cambial (2018)

As políticas monetárias não surtiram o efeito desejado, levando a Argentina a realizar um acordo de empréstimo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). A crise econômica voltou, fazendo com que o câmbio do peso sofresse desvalorizações expressivas.

Pandemia (2020-2023)

Na pandemia do coronavírus, a recessão econômica se agravou e a hiperinflação se instaurou novamente. O PIB argentino chegou a reduzir 10,5% em 2020 e centenas de milhares de pessoas perderam seus empregos. Para tentar controlar a economia, o governo buscou o FMI para renegociar a dívida.

Cenário atual na Argentina (2025)

Segundo informações do Globo, a economia da Argentina deixou a recessão e aponta crescimento de 3,9% no terceiro trimestre. A informação se baseia em dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec).

Cortes de gastos públicos e a desburocratização da máquina pública estão entre os motivos que levaram a economia a se reerguer. As exportações de commodities voltaram a crescer, ainda que o comércio atacadista e as indústrias continuem em declínio.

A presença das criptomoedas no país

A partir da crise cambial de 2018 e do acordo com o FMI, os argentinos passaram a buscar alternativas financeiras que os fizessem escapar da inflação. As stablecoins passaram a ser utilizadas não só como meio de pagamento, como também para preservar a integridade de patrimônios.

Em 2023, quando a inflação superou a marca dos 100%, a busca por criptomoedas se intensificou. A Comissão Nacional de Valores Mobiliários (CNV), órgão regulador de capitais do país, tem avançado na regulamentação de Provedores de Serviços de Ativos Digitais (VASPs), permitindo a entrada de fintechs e demais instituições financeiras que operam com ativos digitais.

Consultas públicas estão sendo elaboradas pela CNV para que a população se manifeste sobre a construção de um marco regulatório satisfatório, permitindo que a inovação financeira continue avançando no país.

Estas medidas devem permitir que a população integre os ativos digitais ao seu cotidiano, priorizando a livre escolha em relação às moedas que desejam utilizar para realizar pagamentos. Embora a crise econômica na Argentina não seja mais tão agressiva, ainda há muito o que ser feito para reerguer a economia.

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  • 23 de Janeiro, 2025