O que é KYC? Saiba como funciona esse processo anti-fraude
O uso de dados e informações de clientes é muito comum em negócios digitais dos mais diferentes segmentos. Além de bancos, ferramentas financeiras digitais e plataformas que operam criptomoedas, outras inúmeras pequenas e grandes empresas adotam o procedimento KYC para prevenir fraudes.
Popularmente usado no sistema financeiro e no mercado cripto, o “conheça seu cliente” analisa riscos e fraudes envolvendo transações com ativos digitais. Essa verificação do cliente tem o objetivo de contribuir para um setor ainda mais seguro para todos.
No Brasil, o sistema foi estabelecido pela Lei 9.613/98, que trata sobre fraudes financeiras no país, como lavagem de dinheiro, ocultação de bens e/ou fraudes envolvendo falsidade ideológica. Além disso, o procedimento também é uma recomendação de prevenção a crimes de lavagem de dinheiro do Anti-Money Laundering (AML).
O objetivo do conjunto de regras envolvendo transações financeiras do AML é proteger os usuários. No mercado cripto, além do KYC, a legislação internacional orienta outro sistema de verificação de dados, conhecido como KYT.
O que é KYC?
O KYC é um sistema de regras de avaliação de dados de clientes, transações e fatores de risco. Uma verificação de dados pode compreender informações como patrimônio, volume de transações financeiras e renda.
Sigla para Know Your Client ou, em tradução literal, conheça o seu cliente, é uma técnica muito presente nas áreas de Compliance das empresas. A partir dessa checagem, uma companhia passa a conhecer mais profundamente o perfil dos seus clientes.
E segundo Mayra Lachter, membra do comitê Compliance Women Committee, a verificação de dados também é feita com fornecedores e funcionários.
Diferença entre KYC, KYP e KYE
No caso de plataformas que negociam criptomoedas, a verificação de dados engloba três métodos. O KYC é o mais conhecido, mas também há os sistemas KYP e KYE.
O KYP, que quer dizer “Conheça seu Parceiro”, em tradução do inglês, serve para que empresas averiguem informações de fornecedores e prestadores de serviço, por exemplo. Enquanto isso, o sistema KYE consiste em “Conheça seu Funcionário”, em tradução literal do inglês, e faz parte de um processo de verificação de informações de funcionários e candidatos de processos seletivos na empresa cripto.
Como funciona o processo Know Your Client?
O foco do KYC é avaliar o cliente. Então, a área de compliance das empresas analisam e verificam internamente as informações fornecidas pelo usuário. O processo tem três etapas: identificação, qualificação e classificação.
A primeira etapa do KYC é para a empresa conhecer melhor o cliente, avaliando os dados pessoais inseridos no momento da inscrição na plataforma, como nome completo e documentos. Além de verificar a validade dos documentos, o processo garante a confirmação da identidade do cliente. Sendo assim, perfis falsos e crimes de falsidade ideológica são eliminados nessa etapa.
O KYC também pode exigir verificações de identidade por meio de selfie e impressão digital. A especialista em compliance diz que um dos primeiros processos do KYC verifica uma “prova de vida” do usuário.
“Contamos com a tecnologia para nos ajudar a deixar este processo mais fluido para o cliente. Então, ao realizar a ‘prova de vida’ garantimos que aquela pessoa existe. Atrelado a isto está a checagem da documentação imputada, onde a inteligência artificial corrobora fazendo o match entre a foto da documentação submetida e a prova de vida. Esta etapa mitiga o risco de fraude, pois garantimos que a pessoa que está se cadastrando é ela mesmo.”
Durante a análise de dados o usuário é classificado a partir das informações cadastrais. Cada negócio estabelece seu critério de avaliação dos clientes.
Portanto, consiste em boas práticas do setor de compliance ter informações sobre o usuário como restrições financeiras, ou se o cliente é uma pessoa politicamente exposta, lembra Mayra.
“Com as diversas ferramentas do mercado é possível obter um report com todas as informações relevantes, como se a pessoa é politicamente exposta (PEP), consta em alguma lista restritiva, possui processos criminais ou mídias negativas relacionadas.”
Pessoa Politicamente Exposta (PEP)
De acordo com o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), são classificados como PEP “os ocupantes de cargos e funções públicas listadas nas normas de PLD/FTP editadas pelos órgãos reguladores e fiscalizadores”. A identificação desses atores é necessária para que se possa prevenir desvios de verbas, corrupção e sonegação fiscal.
KYC em plataformas cripto
Após criar a conta, o usuário precisa fornecer dados para finalizar o cadastro, como números do CPF, identidade e endereço de residência. Além disso, fotos dos documentos de identificação podem ser solicitadas. Geralmente, as exchanges aceitam documentos como a carteira de identidade e a carteira de motorista.
Outras etapas desse processo de verificação podem incluir selfie com os documentos e até a confirmação de digital. Todos esses mecanismos servem não só para trazer mais segurança para o usuário, como também para manter as plataformas cripto em conformidade com o sistema KYC.
Mayra Lachter ainda diz que:
“Para empresas de cripto, falamos ainda de um outro “K” muito relevante, que é o ‘Know Your Transaction’, KYT, onde dentro da avaliação do cliente precisamos analisar a wallet utilizada nas transações, pois perfis idôneos podem negociar através de carteiras com alta exposição à risco, como, por exemplo, financiando o terrorismo.”
Qual é a relação entre o KYC e a prevenção de fraudes?
A etapa de análise de dados do cliente serve para mitigar os riscos envolvendo pessoas politicamente expostas, ou ainda, crimes financeiros como lavagem de dinheiro.
Conforme levantamento de dados do Serasa Experian, entre janeiro e novembro de 2022, 3,6 milhões de fraudes de identidade foram registradas somente no Brasil. Mayra fala que seguir as três etapas do KYC, identificação, qualificação e classificação, pode reduzir os riscos de fraudes relacionadas a esse tipo de crime.
“A partir desta análise, iremos classificar este cliente sob uma perspectiva de risco. Ou seja, se iniciar uma relação comercial com ele deixa a empresa exposta a um grau de risco baixo, médio ou alto. E para garantirmos que estas exposições sejam deliberadas adequadamente, o processo de governança, envolvendo agentes distintos, precisa ser garantido.
Empresas que realizam o processo de KYC, respeitando estas três etapas, mitigam os seus riscos reputacionais e financeiros, uma vez que agem preventivamente a uma possível ação de fraude ou lavagem de dinheiro de um agente mal intencionado.”
Uma das etapas do KYC consiste no envio de documentos para empresas cripto como a Transfero. Confira neste link como utilizar a plataforma passo a passo, para negociar criptomoedas como o BRZ.
Monitoramento contínuo é chave para o processo
O cenário regulatório, principalmente no que diz respeito à inclusão de criptomoedas, está em constante transformação a fim de combater ameaças ao sistema financeiro e à segurança cibernética e nacional.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por exemplo, está desenvolvendo um conjunto de propostas para inibir o crime organizado no país. Para isso, o governo pretende incluir as criptomoedas na lei que trata da lavagem de dinheiro (Lei nº 12.683).
Nesse sentido, as empresas devem estar atentas às novas regras e recomendações. Não apenas o acompanhamento regulatório deve ser contínuo, mas também os processos de KYC.
Após a primeira verificação, é preciso seguir monitorando o cliente para garantir que não haja nenhuma mudança de comportamento que indique riscos. Para maior eficiência nessa revisão, as empresas podem utilizar a automação por meio de tecnologias como inteligência artificial e machine learning.
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