“O sonho é que o Rio se torne a capital do cripto no Brasil”, diz presidente da Invest.Rio

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À medida que as criptomoedas se consolidam no sistema financeiro global, o Rio de Janeiro busca se destacar como um destino de investimentos e também como a “capital do setor de criptomoedas no Brasil”. Para o sucesso desse movimento, o presidente da Invest.Rio, Sidney Levy, avalia que é necessária a “criação de uma comunidade na qual os concorrentes possam sentar à mesma mesa e pautar agendas em comum para dialogar com o governo”.

Em entrevista ao PanoramaCrypto, o executivo posiciona a agência como interlocutora entre agentes de capital, trabalho, desenvolvedores e governo. Somado a isso, Levy elenca os motivos que fazem do Rio de Janeiro o melhor lugar para alocar investimentos. Confira a entrevista na íntegra.

O que é a Invest.Rio, como ela funciona e qual tem sido o papel dela na atração de investimentos para o Rio de Janeiro?

A Invest.Rio é uma agência pequena, mas com um papel estratégico. O Rio de Janeiro tem o objetivo de se posicionar como uma cidade moderna, desenvolvida e capaz de resolver seus problemas de natureza social e econômica. Isso só será possível com a atração de investimentos de capital e talentos. O governo, em si, não cria desenvolvimento, mas sim as condições para que empresas e investidores contribuam para isso. Portanto, o nosso objetivo é ser o interlocutor desses agentes de capital, de trabalho qualificado, dos empreendedores, dos investidores e dos desenvolvedores de tecnologia. Através desse diálogo, esperamos facilitar o investimento e a permanência deles no Rio.

E por que o Rio de Janeiro?

vista da cidade do Rio de Janeiro e o ponto turístico Pão de Açúcar
Foto: Rodrigo S Coelho/ Adobe Stock

O Rio possui características únicas. Primeiro, a cidade conta com universidades de excelência que geram mão de obra altamente qualificada, especialmente nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, que estimulam o progresso no mundo digital. Assim, temos, como primeiro componente, a formação anual de aproximadamente 10 mil profissionais talentosos.

O segundo componente diz respeito à área no Porto (Porto Maravalley) dedicada a receber empresas de tecnologia, com um incentivo fiscal de ISS, que passa de 5% para 2%. Além disso, consideramos que o Rio de Janeiro é o melhor lugar do mundo para se viver, com uma vida equilibrada, natureza exuberante, clima ameno e sem desastres naturais como tsunamis e terremotos. A combinação desses fatores constitui um apelo substancial para o desenvolvimento da cidade, que tem enfrentado dificuldades.

Pode falar mais a respeito?

Apesar de seu sofrimento acumulado e do declínio, o Rio de Janeiro foi, durante muitos anos, a capital do país e continua ditando tendências. Até hoje, é a capital da criatividade no Brasil. As iniciativas mais inovadoras que acontecem no país quase sempre têm origem no Rio de Janeiro e a cidade é a mais internacional do Brasil, onde os estrangeiros se sentem mais em casa. Portanto, o nosso papel é unir esses atores do capital estrangeiro e nacional com os empreendedores locais e encontrar maneiras de superar alguns dos desafios que a cidade enfrentou no passado.

No universo da blockchain e criptomoedas, por que o Rio seria um terreno fértil?

Com o avanço da inteligência artificial, a criatividade será o principal diferencial humano. A IA pode até replicar ou resumir esta nossa entrevista, por exemplo, mas o que estamos conversando aqui tem elaboração espontânea e criatividade. Portanto, a qualidade-chave dos empregos será a criatividade. É ela que se manterá e moverá o mundo.

Historicamente, o Rio é uma cidade muito receptiva à criatividade. Grandes escritores, publicitários e empreendedores viveram aqui, onde o “faça fora da caixa” é normal. Em outras cidades, isso causa estranhamento. No Rio, não. A criatividade pode até causar um certo impacto no primeiro momento, mas no dia seguinte ninguém mais estranha. Essa é uma qualidade espetacular que espero que não se perca.

Quais setores você considera prioritários para impulsionar o desenvolvimento econômico do Rio?

Existem quatro áreas principais. A primeira é petróleo e gás, que é o setor-chave do desenvolvimento do Rio, com grandes empresas e startups sediadas aqui. Depois, temos as energias renováveis, nas quais queremos investir bastante, já que o Rio possui abundância de água, sol e, portanto, potencial de geração elétrica. A terceira é a economia criativa, com cinema, televisão e áudio – com destaque para o filme “Ainda Estou Aqui”, que ganhou o Oscar e foi dirigido por um carioca. A quarta é o turismo, que vem crescendo exponencialmente. 

Você tem números a respeito do crescimento do turismo?

Foto: Lucas Jones/ Web Summit via Flickr

Sim. No ano passado, o Galeão aumentou sua frequência de voos em 30%, e março deste ano foi o melhor mês da história do aeroporto. O calendário de eventos, como Lady Gaga e o Web Summit, também contribui significativamente para essa movimentação. Por fim, queremos transformar o Rio na capital da inovação no Brasil. Temos talentos, incentivos e uma excelente escola de matemática. Enfim, só falta montar o quebra-cabeça.

Falando em inovação, o Invest.Rio tem um grupo de trabalho voltado para o mercado de criptomoedas, o Crypto Rio. Como ele funciona?

A introdução das criptomoedas é, sem dúvida, uma grande inovação no sistema financeiro global, e o Rio quer se posicionar como uma cidade acolhedora às inovações, o que inclui o cripto naturalmente. A prefeitura deseja apoiar esse ecossistema, entender as suas necessidades e criar condições para o seu crescimento, tanto nacional quanto internacionalmente. 

O Crypto Rio foi criado com esse objetivo e contamos com o apoio de empresas que nasceram no Rio e acreditaram nessa tecnologia desde o início. Somos parceiros da Transfero há anos, assim como de outras empresas fundadas por cariocas visionários.

De que maneira o trabalho da Crypto Rio pode ser potencializado?

É preciso criar uma comunidade. Se analisarmos os grandes negócios que têm sucesso no mundo, quase todos esses empreendimentos criaram, simultaneamente, uma comunidade. Refiro-me a um grupo de pessoas que, embora sejam concorrentes, têm um interesse comum no desenvolvimento do mercado.

Assim, a proposta do Crypto Rio preza pela formação de uma comunidade onde os concorrentes possam sentar à mesma mesa e pautar agendas em comum para dialogar com o governo. Acredito que uma das questões aqui no Brasil é a falta de liderança nos setores. Cada um puxa a sardinha para o seu lado e isso não contribui para o desenvolvimento. As coisas que avançam são aquelas realizadas em comunidade.

Além da falta de desenvolvimento comunitário, que outros fatores podem ser melhorados para o avanço do mercado cripto do Rio?

Não acredito que seja uma questão regulatória ou de falta de diálogo. A regulamentação está bem clara e o diálogo existe. O que falta, na minha opinião, é tempo. Essas coisas levam tempo. É como aquele carro voador dos Jetsons, que hoje já existe, mas que ficou muito tempo na espera. O desenvolvimento do setor também ocorrerá plenamente, mas exige um pouco mais de paciência.

Do ponto de vista de infraestrutura, o Rio está preparado para sustentar o crescimento do setor de criptomoedas?

Acredito que o Rio está 100% preparado. Temos talentos, energia limpa disponível para data centers, incentivos fiscais no Porto Maravilha e muitas empresas de criptomoedas  – provavelmente as maiores – em operação. O Rio está prontíssimo e “pode vir quente que estou fervendo”, como diria Erasmo Carlos.

Para finalizar, quais são as oportunidades que a Invest.Rio enxerga para o futuro no setor de criptoativos e como a agência pretende aproveitá-las?

Vamos começar pelo sonho, certo? Vamos pensar grande. O sonho é que o Rio se torne, de fato, o lugar no Brasil onde os empreendedores de cripto se sintam mais à vontade para dialogar entre si, com o governo e com a população. Isso é crucial, pois o universo cripto depende muito de formar mentes e abrir a cabeça das pessoas para esse movimento.

O Rio é o lugar ideal para ser essa caixa de ressonância, onde se possa “botar a boca no trombone” e a mensagem ressoe em todos os cantos. Portanto, o sonho é que o Rio se torne a capital do cripto no Brasil. Que as pessoas venham para cá naturalmente quando tiverem novas ideias e projetos inovadores. A prefeitura, sozinha, não conseguirá. Ela reconhece que não tem como fazer isso sem apoio e quer se colocar à disposição dos empreendedores de cripto, para trabalhar ao lado deles na construção desse sonho.

O post “O sonho é que o Rio se torne a capital do cripto no Brasil”, diz presidente da Invest.Rio apareceu primeiro em PanoramaCrypto.

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  • 15 de Abril, 2025