Por que as stablecoins são utilizadas em um gateway de pagamento cripto?
Investidores estão acostumados a utilizar as stablecoins como uma forma segura de finalizar suas posições em exchanges e outras plataformas de negociação, dada a natureza estável desses ativos. Mas há muitas outras possibilidades de uso. Empresas que atuam como gateway de pagamento cripto, por exemplo, perceberam a versatilidade por trás dessas moedas virtuais e optaram por inserí-las de forma mais discreta e eficiente nos negócios.
Em entrevista ao canal FinTrender, Márlyson Silva e Carlos Just, da Transfero, deram um panorama a respeito de como o modelo de negócios da companhia funciona e de que maneira ele se diferencia de outras plataformas de pagamentos utilizadas em território nacional.
Como funciona um gateway de pagamento cripto?
Os gateways de pagamento funcionam de maneira bastante similar às que são utilizadas tradicionalmente, mas com algumas diferenças pontuais. O comerciante integra a tecnologia a seus pontos de venda (PDV) físicos ou virtuais para intermediar pagamentos, assim como é feito no e-commerce e em lojas presenciais, como supermercados, restaurantes, hotéis, entre outros. No entanto, as stablecoins são usadas como parte da infraestrutura de pagamentos.
No momento do checkout, o cliente escolhe se deseja pagar com uma stablecoin suportada pelo gateway ou em qualquer criptomoeda listada no aplicativo (que será automaticamente convertida em stablecoin).
O valor a ser pago é mostrado em tela de maneira transparente, incluindo a quantidade de tokens, o valor fiduciário da transação e possíveis taxas a serem aplicadas. A movimentação geralmente é concluída em alguns segundos.
Por fim, o gateway de pagamento cripto notifica o comerciante se a transação foi bem-sucedida. Isso normalmente é feito através de uma chamada de API de retorno (webhook), além de atualizações em tempo real em painéis de controle.
Sendo assim, as stablecoins servem como um mecanismo que facilita a aceitação de outros ativos digitais, sejam eles descentralizados ou não, ao mesmo tempo que mantêm a estabilidade proporcionada pelas respectivas economias nacionais.
“É possível antecipar recebíveis, enviar e receber dinheiro, enviar e receber cripto e trocar uma cripto por outra. Por meio do mecanismo de pagamentos atual, é possível construir soluções que se comuniquem tanto com o mercado tradicional como o Web 3.0”, explicou Márlyson.
Acesso ao mercado global
Tendo em vista a natureza descentralizada de grande parte das criptomoedas, as transações podem ser realizadas sem a necessidade de visitar casas de câmbio ou intermediários financeiros de confiança. Em vez disso, as stablecoins fazem parte de uma ponte segura entre a versatilidade das criptomoedas e o controle dos preços das moedas fiduciárias.
Um exemplo dessa tendência envolve a rede de supermercados Zona Sul, que utiliza o Transfero Checkout na unidade de Ipanema, na Rua Barão da Torre, para receber pagamentos em criptomoedas. A Zona Sul carioca é mundialmente conhecida pelos turistas, tornando-a em um local particularmente atraente para investir em tecnologias Web 3.0.
Outras marcas de renome também entraram no jogo. O Grupo Reserva aceita bitcoin (BTC) como meio de pagamento desde 2018, enquanto a construtora e incorporadora Tecnisa permite o uso de criptomoedas para a entrada de imóveis desde 2014. “Estamos explorando o mercado brasileiro para que ele abrace o mercado afora”, comentou Just. “Com isso, empresas nacionais poderão operar diretamente com outras na Ásia, África ou onde quer que seja”, completou.
BaaSIC: É como o BaaS, só que maior
De maneira geral, um gateway de pagamento cripto possui infraestrutura Banking as a Service (BaaS, ou Banco como Serviço), só que permitindo a entrada de valores por meio de moedas digitais que não necessariamente são emitidas por bancos centrais ou instituições tradicionais.
Márlyson chama este modelo de negócios de BaaSIC (Banking as a Service In Crypto, ou Banco como Serviço em Cripto), no qual as stablecoins desempenham o papel fundamental de garantir a estabilidade financeira das empresas, independentemente do ativo digital que elas aceitem em seus pontos de venda.
Assim, mesmo usuários desbancarizados se tornam capazes de efetuar pagamentos, desde que tenham saldo cripto em uma carteira digital devidamente configurada. Isso colabora com uma maior inclusão financeira, que poderá ser explorada em camadas sociais menos favorecidas no futuro.
A tabela a seguir ilustra as principais semelhanças e diferenças entre o BaaS e o BaaSIC:
Característica | BaaS (Bank as a Service) | BaaSIC (Bank as a Service In Crypto) |
Foco Principal | Facilitar a integração de serviços bancários tradicionais (contas, pagamentos, transferências, etc.) em produtos e serviços de empresas não financeiras, utilizando infraestrutura de instituições financeiras regulamentadas. | Facilitar a integração de serviços financeiros baseados em criptoativos (custódia, negociação, pagamentos, etc.) em produtos e serviços de empresas, utilizando infraestrutura blockchain e, potencialmente, em parceria com custodiantes e outras entidades regulamentadas no espaço cripto. |
Infraestrutura Subjacente | Principalmente a infraestrutura de bancos tradicionais, sistemas de pagamento estabelecidos (como transferências bancárias, boletos, cartões, Pix), e APIs que permitem a comunicação entre a plataforma BaaS e as aplicações das empresas clientes. | Principalmente a infraestrutura de blockchains (públicas ou privadas), protocolos de criptomoedas, carteiras digitais, exchanges de criptomoedas, serviços de custódia de ativos digitais e APIs que permitem a interação com essas tecnologias. Pode envolver a integração com sistemas de pagamento fiduciários para conversão de cripto para moeda tradicional. |
Tipos de Serviços Ofertados | Contas de pagamento digitais, emissão de cartões (pré-pagos, débito, crédito), processamento de pagamentos (boletos, transferências, Pix), gestão de cobranças, APIs para integração de pagamentos e transferências, serviços de KYC/KYB, análise de crédito, etc. Geralmente focados em funcionalidades financeiras tradicionais em formato digital. | Custódia de criptoativos, compra e venda de criptoativos, pagamentos em criptomoedas, staking, lending de criptoativos, APIs para integração de transações com cripto, serviços de KYC/KYB adaptados ao contexto de ativos digitais, soluções para on-ramp (conversão de moeda fiduciária para cripto) e off-ramp (conversão de cripto para moeda fiduciária). |
Moedas Envolvidas | Principalmente moedas fiduciárias (Real, Dólar, Euro, etc.). A conversão entre moedas pode ser um serviço oferecido. | Principalmente criptomoedas (Bitcoin, Ethereum, stablecoins como BRZ, etc.). A conversão entre criptomoedas e moedas fiduciárias é uma funcionalidade crucial. |
Regulamentação | Fortemente regulamentado pelas autoridades financeiras (Banco Central, CVM, etc.), seguindo normas específicas para instituições de pagamento, bancos e outras entidades financeiras. A conformidade com as regulamentações existentes para o setor financeiro tradicional é um aspecto central. | O ambiente regulatório para criptoativos ainda está em desenvolvimento em muitas jurisdições, incluindo o Brasil. A conformidade com as regulamentações existentes para o setor financeiro tradicional pode ser aplicável em algumas áreas (como KYC/KYB), mas também há a necessidade de adaptação às futuras regulamentações específicas para criptoativos. A parceria com entidades regulamentadas no espaço cripto pode ser crucial. |
Casos de Uso Típicos | Carteiras digitais de aplicativos de transporte, contas de pagamento em plataformas de e-commerce, programas de fidelidade com funcionalidades financeiras, soluções de crédito para clientes de varejo, plataformas de investimento com acesso a produtos financeiros tradicionais, etc. | Carteiras digitais com suporte a criptoativos, plataformas de negociação de criptomoedas integradas a outros serviços, programas de fidelidade com recompensas em cripto, soluções de pagamento em e-commerce que aceitam criptomoedas, plataformas para gestão de ativos digitais, soluções para DeFi (Finanças Descentralizadas) embarcadas em aplicações tradicionais, etc. |
Segurança | Baseada em protocolos de segurança bancária tradicionais, criptografia de dados sensíveis, autenticação multifator, conformidade com normas de segurança de dados (como a LGPD no Brasil). | Além das medidas de segurança tradicionais, a segurança no BaaSIC envolve a proteção de chaves privadas, a segurança dos protocolos blockchain, a escolha de custodiantes confiáveis, a implementação de smart contracts seguros e a conscientização sobre os riscos específicos do universo cripto (ataques de phishing, golpes, etc.). |
Custos | Geralmente envolve taxas por transação, mensalidades pela utilização da plataforma, custos de integração e desenvolvimento. Os custos podem variar dependendo do volume de transações e dos serviços utilizados. | Os custos podem incluir taxas de transação em blockchain, taxas de câmbio entre cripto e moeda fiduciária, taxas de custódia, taxas de negociação e custos de integração com a infraestrutura blockchain e de criptoativos. A volatilidade das criptomoedas também pode influenciar os custos indiretamente. |
“A pergunta no final do dia é: como conectar todos da mesma forma utilizando as mesmas API? E, se fizermos isso, de que forma as outras empresas farão uso dessa infraestrutura?”, indagou Márlyson, concluindo com a ideia de que a integração sistêmica entre diferentes empresas é o ponto-chave para o sucesso da inclusão financeira em escala global. Nesse contexto, um gateway de pagamento cripto desempenha um papel sólido.
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