“Precisamos deixar os mecanismos da Era Industrial de governança”, diz Carl Amorim
O caminho das empresas para aperfeiçoar operações reduzindo custos, aumentando a produtividade e oferecendo produtos e serviços mais personalizados e acessíveis, encontra apoio nas Organização Autônoma Descentralizada (DAO), que podem elevar essa a outro nível.
DAO é uma entidade sem uma autoridade central, diferentemente dos arranjos tradicionais. Em vez disso, ela é governada por um conjunto de regras codificadas em contratos inteligentes, executados em uma blockchain.
Como uma DAO funciona?
Imagine um tesoureiro trabalhando em uma indústria. Tradicionalmente, ele tem como objetivo alocar os fundos da maneira mais eficiente possível, sendo o responsável por prestar contas periodicamente para que o seu trabalho seja monitorado e reconhecido. Em uma DAO, contratos inteligentes seriam utilizados para gerenciar esses fundos.
Todas as regras sobre como o dinheiro poderia ser gasto são definidas no código do contrato e não podem ser alteradas sem que os participantes da organização entrem em comum acordo. As votações são, de maneira geral, realizadas por detentores de tokens nativos da plataforma.
Além disso, as diretrizes a serem seguidas por profissionais ou investidores também são registradas na rede. Isso significa que elas podem ser revisadas a qualquer momento, podendo haver mudanças futuras mediante consenso.
De forma prática, quatro pilares direcionam a estrutura de uma Organização Autônoma Descentralizada:
- Autonomia: Grande parte das regras da organização são registradas em blockchain, o que reduz a necessidade de intervenção humana ao longo do processo;
- Descentralização: O controle das operações é pulverizado entre os participantes, evitando um ponto único de falha;
- Transparência: Tanto as regras como as transações, por serem registradas na blockchain, podem ser monitoradas, na maioria das vezes, em tempo real;
- Imutabilidade: As regras codificadas em contratos inteligentes não podem ser alteradas facilmente, o que aumenta a solidez e a previsibilidade do modelo organizacional.
Existem DAOs disponíveis para os mais variados fins. A SeedClub, por exemplo, ajuda a construir e a investir em comunidades, enquanto a KaizenDAO reúne investidores da Web3 que buscam acompanhar projetos do início ao fim, seja no aspecto técnico, financeiro ou operacional.
O fim do atual modelo de governança
Em entrevista ao PanoramaCrypto, Carl Amorim, engenheiro com MBA em Finanças e Pós-Graduado em Marketing, deu a sua visão a respeito do modelo atual de negócios praticado globalmente e de que forma as DAOs podem mudar essa roupagem. Ele foi iniciador da Prospera, primeira DAO brasileira, assim como tradutor do livro Blockchain Revolution, de Don Tapscott.
“A única forma que tem como impactar modelos de negócio é através da inversão da dinâmica do custo de transação”, disse Amorim. De maneira simplificada, o custo de produção de algo precisa ser inferior ao da venda, ou não há retorno. Por meio das organizações autônomas descentralizadas, o custo fixo das empresas (relacionado à manutenção do negócio como um todo) pode ser drasticamente reduzido”, diz.
Segundo o especialista, o custo envolvendo profissionais costuma ser maior que o de infraestrutura em uma DAO. Com isso, grandes empresas podem terceirizar determinados serviços por meio delas para reduzir custos e aumentar a eficiência. “Com isso, a distribuição dos processos deverá ser afetada. Se entendemos sobre os processos distribuídos, fica muito mais fácil fazer negócios”, ressaltou.
Mesmo os processos de disputas internas dentro das empresas podem ser simplificados por meio dos mecanismos de uma DAO, inserindo-os parcialmente nos modelos tradicionais. Isso faria com que tanto os ecossistemas centralizados como os descentralizados e distribuídos “falassem a mesma língua” dentro de um mesmo projeto.
Incentivos para a coexistência
Amorim usou como exemplo o modelo de negócios do Airbnb, que passou a utilizar boa parte da sua capacidade ociosa para oferecer novos serviços aos hóspedes. Por meio de parcerias estratégicas e de baixo custo, tornou-se um nome proeminente entre os viajantes que precisam economizar.
Ferramentas e soluções personalizadas podem ser construídas por comunidades de desenvolvedores experientes em blockchain, permitindo que a escalabilidade dos modelos de negócios seja mantida.
Uma vez que os custos envolvidos em uma empresa podem ser reduzidos, parte do capital poderá ser investido no crescimento da marca e no desenvolvimento de produtos cada vez mais acessíveis e personalizáveis.
“Um grande banco tradicional poderia ganhar muito contratando DAOs para desenvolver ferramentas e soluções personalizadas para os seus clientes, em vez de solicitar os mesmos trabalhos por meios tradicionais”, comentou Amorim. Ele conclui que a inovação não se limita às grandes instituições: empresas de todos os portes podem encontrar opções compatíveis com a sua realidade financeira.
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